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Tuesday, November 15, 2016

OS ERROS DOS ANALISTAS E DAS PESQUISAS SOBRE EVENTOS DE MASSA



“É importante aprender a não se aborrecer com opiniões diferentes das suas, mas dispor-se a trabalhar para entender como elas surgiram. Se depois de entendê-las ainda lhe parecerem falsas, então poderá combatê-las com mais eficiência do que se você tivesse se mantido simplesmente chocado.” - Bertrand Russell
A chamada grande imprensa tem adjetivado de surpreendente vários eventos que não se deu conta das origens e das razões de seus resultados contundentes. Esse olhar turvo também é compartilhado com os grandes institutos de pesquisas, consultorias financeiras e doutores de ciência política alhures. De trás para frente, da eleição de Donald Trump, em novembro de 2016, à chamada primavera árabe, em 18 de dezembro de 2010 a meados de 2012, os grandes analistas submergiram às notas do establishment e aos paradigmas analíticos da esquerda anacrônica. Nesse período de 2010 a 2016, do “mensalão” ao impeachment de Dilma Rousseff, o Brasil também foi vitimado dessa submersão desassociada dos fatos. No meio desse período, exatos junhos de 2013, na explosão de protestos contra o aumento de tarifas de ônibus e contra a calamidade dos serviços públicos, o que mais se ouvia e lia na imprensa era que analistas e políticos tentavam entender o “fenômeno” das ruas sem o patrocínio da esquerda. Os analistas simplesmente deram de ombro para o cotidiano, para os fatos correntes, e optaram por comprar o discurso falacioso da divisão de classes, da perversão das elites, do retrocesso ideológico como fatores preponderantes para o resultado que erroneamente projetavam, ou seja, previam que urnas à frente, por exemplo, falariam em prol do discurso “progressista”. Mas não foi só isso. Os especialistas esqueceram-se de pedir auxílio à psicanálise para explicar o quão nefasto é o peso da mentira no regramento e na convivência pacífica da sociedade.
SUBMERSÃO DESASSOCIADA DOS FATOS
Nos eventos eleitorais mais recentes e contundentes, aqui e lá fora, João Dória e Donald Trump entregaram resultados acachapantes. O primeiro entregou uma vitória histórica na política brasileira pelo ineditismo ao vencer a eleição para a Prefeitura do Município de São Paulo no primeiro turno. O segundo derrotou o carismático Obama, a popular Michelle, a preparada Hilary com o clã Clinton e cacifes do próprio Partido Republicano. Depois dos resultados das urnas, poucos foram suficientemente humildes para reconhecer a miopia analítica - praticamente todos os grandes jornais dos EUA ou declararam apoio a Hillary Clinton ou deixaram de endossar Donald Trump na campanha de 2016. Em coincidência de justificativa, agora apontam como fator decisivo daquelas eleições a aversão do eleitor ao político tradicional. Que vergonha alheia! Aqui e lá, um desvendou o fracasso (saúde, segurança, renda) do atual prefeito Miguel Haddad, a corrupção do PT, e o uso de minorias contra os direitos mínimos da maioria. O outro desvendou o fracasso do governo Barack Obama (saúde, segurança, renda), a ineficácia do Partido Democrata na Câmara e no Senado e o uso de minorias contra os direitos mínimos da maioria. O homem comum, pobre ou médio, tanto brasileiro quanto americano, está cansado de discurso sobre garantias constitucionais, enquanto empobrece, endivida-se, adoece e é assaltado nas ruas. Esses fatos foram mitigados pelos analistas que preferiram propagar que Dória era um coxinha, e que Trump era um palhaço nazista. Assim, os analistas prestigiados compraram os preconceitos partidários em detrimentos dos fatos que circulam velozmente nos túneis do metro diariamente.
NOTAS DO ESTABLISHMENT
A mentira como estratégia para mascarar os graves problemas gerados pelo governo teve, aqui no Brasil, ampla receptividade nas colunas de análise política tanto na época de mensalão quanto no petrolão. Como regra, a equivalência entre uma denúncia do Ministério Público e a versão inverossímil do acusado tem sido um desserviço que depõe contra a credibilidade da imprensa e dos analistas. Mais uma vez, trata-se do destrato ao fato. A corrupção sistemática e endêmica nos negócios públicos durante mais de 13 (treze) anos do governo petista, pois, foi recepcionada como contraponto justificável nos prognósticos de política - que criaram ou reforçaram, dentre outras, uma divisão artificial entre brasileiros. Por exemplo, o chefe da organização criminosa do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, sempre foi tratado como força forte, perene, grande e único líder e imbatível, a despeito do uso de bilhões de reais de origem criminosa para eleger presidente, senadores, deputados, prefeitos e vereadores em todo Brasil. Eles são sempre ávidos em procurar a jurisprudência da impunidade, da igualdade com outros malfeitores, da mitificação do passado nefasto, para dizer que os crimes do PT, ainda que mais cruéis, tem antecedentes no mau exemplo de outros ou quinhão de uma herança maldita. Assim, as notas do establishment têm suplantado os fatos com o fim de dar engodo ou contumácia à normalidade da corrupção ou à banalidade do mal.
PARADIGMAS ANALÍTICOS DA ESQUERDA ANACRÔNICA
"Por que repetir erros antigos, se há tantos erros novos a escolher?" – Essa é uma provocação de Bertrand Russell, a propósito, um analista anarquista sob a aura de um socialista que agradaria Leonel Brizola no idos de 1970, mas que era consciente de propor novas soluções para a sociedade em diferentes momentos. Pois é! O mundo mudou tanto desde 2012! Por exemplo, a disseminação instantânea dos fatos e de fotos pelos smartphones não tem mais bandeiras ideológicas. São apenas fatos e fotos. Eles desmascaram analistas, derrubam governos, descobrem verdades, prendem farsantes, filmam crimes, geram fatos históricos. Então, análises fundadas em paradigmas anacrônicos serão crônicas de futuras desculpas por não terem atentado para sua majestade o fato. Deveriam não advogar o uso de minorias contra os direitos mínimos da maioria, o apartheid das cotas de cor ou de gênero, ou a equivalência entre a legítima acusação e a defesa inconsistente do crime, como premissa para prognóstico político, sob pena de se surpreender com aqueles que enxergam os fatos como eles são; que ouvem a voz rouca das ruas; que não mistificam bandidos; que não dão oxigênio para terroristas; que não dão de ombros para o esgotamento do reino da mentira. Afinal, errar é da natureza humana, mas insistir no erro analítico não é democrático, porque desconsidera o peso da mentira contra o regramento e a convivência pacífica dos homens em sociedade; porque o efeito da mentira é a dor que os fatos expõem à luz do dia para quem vive o dia a dia. E a mentira do momento é a deflagrada era da incerteza, quando sobram certezas nessa era.

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