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Sunday, October 30, 2011

Shakespearando - Resenha



Shakespearando é uma audaciosa jornada pelo universo humano construído pelo inigualável William Shakespeare, que se homenageia. Em adição, alinhar no tempo um fio condutor com memoráveis e poderosos personagens de Como Gostais, Hamlet, Otelo, Trabalhos de Amor Perdidos, Romeu e Julieta, Henrique IV, Cleópatra e Antonio e O Mercador de Veneza, atinge a fronteira do surreal, cuja natureza do improvável confere à peça a comicidade escrachada de todo I Ato de Shakespearando, bem como desvenda o motivo da aludida “piração” do nome desse texto teatral. “Pearando” também remete ao gerúndio para significar uma ação adjunta no estilo do festejado bardo, ou seja, segue os preceitos da adequação da ação ao texto e da palavra ao gesto como dita o Rei diretor e o Autor ator. Por essa razão, o II Ato de Shakespearando se converte em um Sarau em que os personagens interpretam falas célebres e poemas de Shakespeare no mais próximo estilo do teatro Elizabetano. Por exemplo, a enlouquecida e delirante Ofélia do I Ato se transforma no II Ato em uma linda e poética Julieta que converte Hamlet em autêntico Romeu.
Outro desafio descomunal para Shakespearando, uma peça de pouco mais de uma hora, foi conservar e “fidelizar” a personalidade dos mais fortes personagens de todos os tempos. Talvez essa exigência tenha conferido a peça uma força dramática na tentativa de fazer jus ao homenageado. Assim, Iago se apresenta como contundente estrategista e conduz a trama cômica com sua psicologia efetiva. De igual personalidade, Cleópatra elabora seus objetivos e conduz um plano paralelo por meio de alianças estratégicas. O casal charmoso e inteligente, Rosalina e Biron, encanta pela reiteração da estética limpa e altiva ao se colocar no plano das idéias significativamente mais intelectual e iluminado. Hamlet, retirado do frescor de sua idade, continua passageiro dos acontecimentos e instigado a tomar decisões na vida. Rosalinda retém o sumo hedonista para distribuir seu prazer de viver e o frescor da floresta de Ardem, sem abdicar de sua sagacidade envolvente no embate com Iago e Cleópatra. Shylock mantém seu raciocínio rápido e didático em um deslocamento estratégico que o faz sair de Veneza e aportar em Berlim para ser um autêntico judeu alemão muito provocante. De igual sorte, Antonio de Shakespearando “teve” de fundir-se nos dois Antonio´s shakeasperianos para atender uma função dramática que lhe rendeu um protagonismo de causa hilária. E, finalmente, não por acaso, Falstaff empresta o legítimo humor inglês para desfechar o imbróglio da peça, a justificar a insistência perturbadora de seus pares em tê-lo na peça e protagonizar o final como só ele seria capaz de fazê-lo.
Com um time de titãs desse, o enredo não poderia ser coisa pouca. Todos eles são trazidos em pleno ano de 2012 para salvar a Europa da severa crise que ameaça a sua existência. Cleópatra, Presidente do Fundo Monetário, e Iago, Presidente do Banco Mundial, realizam uma Reunião de Cúpula sob os auspícios de Hamlet, Príncipe da Dinamarca, e com a participação dos Ministros das Finanças do Reino Unido, Rosalinda, da França, Rosalina, da Espanha, Biron, da Itália, Antonio, e da Alemanha, Shylock. Eles estão em um intrincado jogo em que nenhuma peça do tabuleiro pode ser mexida arriscadamente sob pena de xeque mate. Em paralelo, existem interesses pessoais e caprichos envolvidos de tal sorte, que a prevalência de um sobre o outro pode alterar de forma irreversível sua condição humana. Deixa-se com Falstaff, devoto de São Cypriano, o lance final a la fé!