Crise mundial: hora de pagar a conta do consumo desenfreado dos ricos.
G-7 paga, ok? No, no, G-20 paga.
Hermano Leitão
A reunião do G-20 no último dia 02 teve duas cenas pitorescas na periferia da grande encenação da peça “os lideres unidos jamais serão vencidos”. Na pose para foto do cartaz publicitário, Ângela Merkel ralhava com a rebelde e decadente Cristina Kirschner. A Chanceler Alemã queria que a Presidente Argentina fizesse par de vasos com ela para não sobrar na ponta e ficar banguela, mas foi inútil, la Kirschner não atendeu Merkel. A segunda cena foi Barack tirar um barato de Lula lá, ao chamá-lo de “bonitão”, mas o brasileiro nem se tocou na hora porque não prestou muito bem atenção ao inglês do colega que, ao seu ver, parece um baiano e ainda gozava em “estado de graças” porque achou histórico o Brasil emprestar dinheiro pro FMI. Daí pra frente, a peça dos líderes virou uma ópera de Puccini, mais precisamente Tosca, que originalmente estreou em 1900 em uma atmosfera de tensão na Europa e prenunciou um século de guerras, como em seu enredo sangrento. Por coincidência, a trilha de Puccini hoje prenuncia o terrorismo, como em Quantum of Solace, de 007. Nesse filme, há uma cena em que James Bond escuta, em segredo, o encontro entre membros de uma organização terrorista e foge deles ao som de "Va, Tosca", aquela música do final do Primeiro Ato da Opera, cantada por Scarpia. E tem tudo a ver com os tempos de hoje, porque 007 em Quantum of Solace luta contra um empresário que tem ligações com a misteriosa organização Quantum e descobre que ela planeja controlar os recursos naturais mais preciosos do planeta. Ou seja, Va, Tosca é o grito de guerra da reunião dos mais ricos do mundo. Lógico que Barack Obama representa James Bond, porque, embora britânico como Daniel Craig, Gordom Brown está mais para personagem de Batman, talvez o Robin, porque foi pau mandado de Bond pra correr o mundo e avisar que a conta do prejuízo do consumo desenfreado do G-007 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) será pago pelo resto do G-20, ou melhor, pelos novos riches emergentes que estão com a bola toda e podem acertar o ponto G na mosca a la Tosca. Porém, dentre os emergidos, o México disse que não tá podendo e já pediu US$16 bi ao FMI; a Argentina disse que a vaca foi pro brejo; a Rússia disse que está a beira de um ataque de moratória; a África do Sul disse que a situação lá tá preta; Portugal disse que já emprestou o Durão Barroso pra UE; a Espanha de Sapateiro disse que tá descalçada; a Austrália tá dando uns pinotes de canguru; a Índia disse que o dinheiro poderá sair depois da novela; a Coreia do Sul disse que está preocupada com o míssil da Coreia do Norte nos seus fundos; a Turquia disse que só ia emprestar algum depois que lhe devolvesse o que vai emprestar; a Arábia Saudita disse que vai fazer uma contribuição por meio da diminuição de sua cota de petróleo na OPEP; a China disse que só contribuiria com dinheiro se o BID trocasse a moeda de cambio internacional; então a trolha sobrou para o Brasil, cujo mandatário disse que o país praticamente nem sente esta tal de crise, que está muito orgulhoso de tomar pra si essa trolha de um trilhão como um gesto de tolerância e de indulgência com que todo emergente deve dissimular as faltas e defeitos de seus irmãos brancos e de olhos azuis, para ensinar a propagar os sentimentos de afeto e bondade que unem a todos os membros do G-20, e que pegar forte na trolha é um ato de benevolência de silêncio eloquente. Pois é, Tosca é morena e de olhos negros, a outra é loira e de olhos azuis.